domingo, 30 de janeiro de 2011

Todas as mulheres do mundo

   
 A doutora Maíra de Freitas, que integra a Comissão de Bioética da OAB de Minas Gerais, passou um ano no Timor Leste e viveu lá momentos que não quer esquecer e julga necessário contar, para que se conheça melhor a vida cotidiana desses nossos primos pobres. Por isso, manda em breve para as livrarias o livro “Destino: Timor Leste”.
    Escrito com a emoção de quem descobre e se espanta com a realidade de uma das mais jovens nações do planeta, o livro dedica amplo espaço à situação das mulheres, até hoje entregues pelas famílias aos futuros maridos em troca de búfalos, porcos e cabritos e dedicadas pelo resto da sua curta existência (a expectativa é de 55 anos, em média) ao trabalho duro, em casa, na lavoura e nos mercados.
Tratadas como mercadoria, mão de obra e propriedade do marido, as mulheres são vítimas habituais da violência doméstica, amplamente aceita pela comunidade. Miúdas e analfabetas em sua maioria, aparentam grande fragilidade, mas ainda assim é comum vê-las, já idosas, subindo as montanhas com enormes feixes de lenha na cabeça, seguidas pelas filhas e netas.
Mas o livro da doutora Maíra não é só um retrato da pobreza material e do atraso social. Ela recorda que muitas mulheres pegaram em armas, na luta pela independência do país e voltariam a combater, caso necessário. E algumas se dedicam intensamente à melhoria da educação e das condições de vida no país. Idalina, por exemplo, apesar do físico franzino, é trabalhadora mais valente e dedicada que qualquer homem, enfrentou as tropas da Indonésia e, durante os combates, teve que se refugiar nas montanhas para escapar da morte e do estupro. Ficou por lá durante 15 dias, sem comida e tomando apenas a água de uma fonte natural.
Está quase tudo por fazer, no Timor Leste. A falta de higiene pessoal é assustadora. Nos mercados, as mulheres catam piolhos nas cabeças umas das outras, ao lado dos alimentos que vendem e em meio a baratas, cães e galos. E esses alimentos quase sempre são cultivados sem cuidado e até mesmo em locais contaminados pela falta de saneamento básico.
Além disso, sem informação sobre planejamento familiar e doenças sexualmente transmissíveis, elas têm grande número de filhos e muitos morrem ainda bebês, vitimados por doenças típicas da pobreza, como a desnutrição aguda e a diarréia.
    Mas há também empresárias, representantes do povo no Parlamento, donas de salões de beleza, de barracas de peixes e de outros negócios e até mulheres corajosas a ponto de pedir o divórcio, em um país no qual 97% das pessoas são católicas praticantes e quem se divorcia é excluído da comunidade.
Essas contradições levaram a doutora Maíra de Freitas a uma série de reflexões sobre o papel da mulher, não só no Timor Leste, mas no mundo inteiro. “Por que aceitamos que o poder ainda esteja nas mãos dos homens? E quem lhes dá tanto poder? Já é hora de sermos mais ousadas, para irmos além da independência financeira ou da posição de objeto de consumo”.
Seria bom que todas as meninas lessem esse relato de uma realidade chocante, que não é exclusividade do Timor Leste.


Tião Martins



Um comentário:

  1. Muito boa tarde.
    Sou o Arquitecto João Tolentino e possuo em Portugal um Centro de Documentação de Timor-Leste.
    Estou muito interessado em adquirir este livro para a Biblioteca do Centro.
    Agradeço qualquer informação de como possa adquirir este livro.
    Obrigado
    Email: j.f.tolentino@hotmail.com

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