quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A estética da morte


Nos últimos meses, várias mulheres jovens, em diferentes pontos do Brasil, perderam a vida tentando atingir o padrão de beleza que elegeram como desejável.
Se a nossa imprensa cultivasse o saudável hábito de ir além dos fatos do dia, já saberíamos o que motivou essas mulheres a correr tão grande risco em troca de uns quilos a menos ou de uns centímetros a mais.
Ainda hoje, entretanto, dedicamos mais tempo e espaço à morte que à vida. Se a jovem se submete à lipoaspiração e morre na mesa de cirurgia, é notícia por um dia. Ninguém vai à raiz da questão, ou seja, a deformação cultural que faz com que tantas mulheres corram para o matadouro.
A verdade é que uma sociedade na qual dois ou tres quilos a mais ou uns centímetros a menos produzem ansiedade tão doentia nas mulheres, a ponto de levá-las a tomar empréstimo em banco para morrer, necessita de cuidados urgentes.
Sim, as moças caíram nas mãos de médicos ambiciosos ou despreparados. Mas os médicos não estavam sozinhos no açougue. Ao lado deles, estávamos todos nós, testemunhas e cúmplices do preconceito contra as gordinhas, fofinhas ou cheinhas, denominações delicadas na superfície, mas ofensivas e mortais.
Sim, somos cúmplices, porque inventamos os motivos que levam a menina a pagar preço exorbitante por uma ilusão. E esse nós inclui pais e mães, médicos, jornalistas, psicólogos, estilistas e produtores de moda, assim como os amigos, maridos ou namorados das vítimas.
Antes de chegarem às mãos dos médicos, as meninas que morreram “para emagrecer” foram vítimas de um linchamento moral. Nós – os magros, esbeltos e inocentes – apontamos para elas o dedo acusador e as empurramos para o açougue da lipoaspiração e da mamoplastia.
Somos do bando que cultiva e dissemina a estética da morte e diz à mulher que, se ela estiver fora dos nossos padrões, jamais encontrará homem que a faça feliz.
E há algum homem, neste planetinha maluco, capaz de “fazer” alguém feliz?

Tião Martins


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