segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Felicidade impressa em dólares



Com raras exceções, os filósofos norte-americanos caracterizam-se pela busca de respostas práticas e objetivas para impasses do mundo real, evitando as questões metafísicas que encantam os pensadores europeus. Esse pragmatismo, próprio da cultura ianque, faz com que as obras norte-americanas se aproximem mais do Marketing e da Engenharia Industrial que da Filosofia.
O "filósofo" Sam Harris, de 43 anos, com o livro "A Morte da Fé", foi fiel a essa vertente utilitária e superficial, ao propor que a fé religiosa - segundo ele responsável por sofrimentos desnecessários e impostos historicamente a milhões de pessoas - seja substituída pela confiança na ciência, única que pode dizer o que é certo ou errado, por ser depositária da razão, honestidade e amor.
Doutor em Neurociência pela Universidade da Califórnia, Harris lançou mais dois livros: "Carta a uma nação cristã" e "O Território Moral". No primeiro, discute a responsabilidade das religiões por conflitos que produzem tantas vítimas. E no outro cobra dos cientistas a definição de uma "ciência da moralidade", que substitua as religiões e defina o bem e o mal, do ponto de vista da felicidade humana.
Produto típico da Califórnia, o rapaz limita-se a reunir especulações científicas e filosóficas de Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Daniel Dennet. Explorando o prestígio deles, bateu tudo no liquidificador e acrescentou à receita pimenta sintetizada em frase sensacionalista, que joga nos olhos dos crentes: "Não acreditar em Deus é um atalho para a felicidade".
Abraçando a superficialidade, Harris satisfez o ego da grande massa de leitores americanos, ao dizer que as discussões e proposições filosóficas, em sua maioria, são confusas e irrelevantes para a abordagem das questões mais importantes da vida humana.
Diante dessa crítica radical, Sócrates, Aristóteles, Platão, Descartes, Spinoza, Kant, Pascal, Nietzsche, Kierkegaard, Schopenhauer, Heidegger e Jean-Paul Sartre nem piscaram o olho, em suas tumbas. Tudo faz crer que o californiano não leu nenhum deles. E, se tentou ler, não entendeu, sentiu sono e foi dormir cedo, para ir à praia ou jogar basquetebol na manhã seguinte. O importante, na América, é a felicidade de Sam Harris, impressa em dólares.


Tião Martins

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