quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Mulheres sem filhos


Para quem nunca passou por isso, parece inacreditável que ainda hoje certas famílias e algumas “amigas” sintam-se com o direito de criticar e pressionar as mulheres que não desejam ter filhos, usando argumentos que são do tempo dos nossos bisavós.
Nos países desenvolvidos (e também no Brasil), é cada vez maior o número de mulheres que descartam a idéia de engravidar, mas vem crescendo também sobre elas as pressões exercidas por parentes, amigas, colegas de trabalho e até mesmo pessoas estranhas.
Em alguns casos, as cobranças, as pressões e até a chantagem emocional são tão fortes que algumas mulheres mais tímidas preferem ocultar a sua opção e outras mudam de idéia, no meio do caminho, para agradar a esses intrusos.
Pesquisas realizadas em diversos países revelam que a pressão social em prol da maternidade acontece em todas as classes sociais e pode afetar desde trabalhadoras braçais até mulheres com pós-doutorado e elevado nível de qualificação profissional.
Decidir se quer ou não ter filhos já deveria ser, em nosso tempo, uma expressão da liberdade da mulher, principalmente quando se sabe que metade delas faz essa opção ainda na juventude, para avançar nos estudos ou conquistar posições de maior relevo no mundo do trabalho.
Qualquer tipo de pressão ou chantagem para que essas mulheres alterem o curso de suas vidas constitui violência intolerável, mas ainda são poucas as que enfrentam abertamente a ação dos invasores de sua liberdade.
E não é justo atribuir toda a violência apenas ao machismo dos maridos (que muitas vezes são realmente os autores), pois é imenso o número de casos em que mães, tias, avós e “amigas” são as principais responsáveis.
Essas conselheiras argumentam que as jovens mulheres, se não tiverem filhos, podem “perder” maridos ou amantes e, no futuro, já idosas, serão pessoas terrivelmente solitárias e, portanto, frustradas. Entretanto, basta observar o mundo em volta para qualquer um constatar que a solidão na terceira idade, para homens e, principalmente, para mulheres, com ou sem filhos, vai se tornando uma realidade incontestável.
Além disso, quem contraria sua opção mais profunda e gera filhos por motivo tão interesseiro dificilmente contará com o afeto e a futura solidariedade desses herdeiros indesejados.
Se até mulheres com proclamada vocação maternal falham na educação emocional dos filhos, imaginem o que acontecerá com aquelas que apenas cederam às pressões sociais?
Irmãs, pais, mães, tios e avós que temem (ou desprezam) o crescimento intelectual e profissional das mulheres jovens deveriam cuidar de suas próprias vidas, em vez de sabotar os esforços delas. E as colegas que trilham o mesmo caminho podem ser chamadas de tudo, menos de amigas.
Criar mais esse fantasma para atormentar as mulheres jovens, além de todos os obstáculos, dúvidas e desafios que elas já enfrentam em sua vida acadêmica e profissional, é atitude da mais extrema crueldade.
A vida real pede aos culpados que, por uma questão de coerência e honestidade, pelo menos não chamem isso de amor.


Tião Martins

3 comentários:

  1. Essa cobrança velada ou direta realmente existe, mas só a mulher que não tem personalidade cai nessa armadilha. Somos responsáveis por "nossas" escolhas, o resto é conversa fiada.

    beeeeeeeeeeijo

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  2. Olá, vim agradecer por sua visita em meu blog. Seja muito bem vinda!
    Não consegui acessar seu outro blog, por isso estou vindo aqui. Gostei bastante. Quanto a este post, acho inacreditável que ainda haja críticas sobre isso, e existe. Mas não há necessidade em formar uma família na situação de hoje, tampouco brigar por isso, há outras coisas pelas quais deveríamos brigar.
    Bom, vou indo ou o comentário fica muito longo. Um lindo dia. ^^

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  3. Concordo muito com o seu texto, podemos perceber isso mais claramente quando uma pessoa casa, logo em seguida as pessoas já estão perguntando quando ela vai querer ter filhos, e se já tem um tempo de casada as pessoas já vão logo falando que já está na hora de ter filhos, mas essa cobrança é bem chata e sem importancia. Bem adorei o seu blog e os seus textos, da uma passadinha lá tbm, beijos

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