segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tempo e espaço



O inconformismo diante de enganos e tolices é fruto da inteligência, assim como a intolerância é manifestação de selvageria que encontramos até em rodas sociais aparentemente sofisticadas.
O triste é saber que a intolerância visita com frequência o coração dos jovens, que sentem aflitiva necessidade de ignorar ou combater tudo que nasceu antes deles. Trata-se de atitude infantil, mas os doutores dizem que essa rejeição faz parte do processo de afirmação e crescimento da juventude.
Por isso, os jovens abraçam a novidade, qualquer que seja. E a internet, que julgam ser contemporânea deles (embora nascida, de fato, em meados do século passado), é território que amam, enquanto jornais, revistas e livros cheiram a coisa antiga.
Nascida na última década do século XX (aquele que muita gente gostaria de esquecer, mas não consegue), Bruna considera revoltante esse preconceito da sua geração contra livros e jornais. Mas, ao contrário dos intolerantes, tem a maturidade de duvidar de si mesma e já renunciou à ilusão de ser dona da verdade. A verdade, diz ela, é território que não pertence a ninguém e está sempre mudando de mãos.
Por isso, pergunta, com leve senso de humor:
- Será que estou mesmo atrasada? Talvez o meu nascimento tenha sido programado para décadas anteriores e, por algum motivo, foi adiado. Por isso, ando deslocada no tempo e no espaço. É o que me dizem, quando descobrem que não tenho celular, não leio as aventuras do menino bruxo e meus contemporâneos sequer ouviram falar da minha banda preferida.
Não ouviram porque o ruído da multidão os impede de escutar tudo que não seja ensurdecedor. E a multidão ignora algo essencial: não há arte ou vida sem pausas, espaços vazios e silêncios. Bruna sabe disso e tem saudade de tempos que nem viveu.
Afinal, até os tempos mais escuros um dia passam e deixam algo de bom. O século XX foi vagabundinho, é verdade. Mas, do jeito que as coisas estão indo, alguém acredita que o atual será melhor?


Tião Martins

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