segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pequenos tiranos



A médica e jornalista experimental Mara Narciso escreveu um dia desses que “o mundo está repleto de déspotas”, referindo-se a pessoas e grupos minoritários que tentam impor aos demais suas convicções, desejos, opções estéticas e os mais variados cultos.
Tem razão, a doutora, e não está sozinha na rejeição a esses pequenos césares enlouquecidos, que vão desde os calígulas do politicamente correto até os neros que adorariam apagar a História, incendiar bibliotecas e queimar os jornais que discordam deles. Nem é preciso dar nomes aos bois e às vacas federais, que estão por aí, pastando nos campos da ignorância e mamando nas tetas da nossa dócil República.
Mas há déspotas infiltrados em outros lugares.
A família, por exemplo, apesar de todas as mudanças pelas quais passou nas últimas décadas, ainda é um reduto de despotismo, embora os militantes usem o disfarce de “só querer o bem, a felicidade e a segurança” de suas vítimas.
As armas com que os pequenos déspotas familiares controlam as vítimas são a “sabedoria e autoridade dos mais velhos”, a chantagem emocional (“se você gostasse de mim, não agiria assim”) e a cobrança de reconhecimento pelo que ofereceram, no passado, a essas vítimas (“fiz tudo por você, renunciei à liberdade e a uma vida melhor e é esse o prêmio que recebo”).
Dirão os defensores da sagrada família que essas atitudes são legítimas, porque adotadas com a melhor das intenções. Mas quem lhes assegura que “a melhor das intenções” significa o bem-estar das vítimas? Já se disse um milhão de vezes, repetindo Samuel Johnson, que de boas intenções está calçado o caminho do inferno. O inferno do outro, é claro.



Tião Martins

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