segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Não ter sentido é o seu sentido.




O ser humano tem uma sede desmesurada de absoluto; quer compreender o mundo, quer reduzi-lo a si mesmo, quer fazê-lo seu, só que entre o mundo e o homem há um grande divórcio. Não se trata de uma exclusão, mas antes de uma presença comum de duas realidades que são mutuamente alheias e ininteligíveis.

Tanto de si como do mundo, o homem só conhece estilhaços, pedaços aqui e acolá que de forma alguma lhe proporcionarão um verdadeiro conhecimento. De nada servirão ao homem as mais perfeitas e acabadas teorias da ciência que perversamente tudo pensam explicar, quando nem de si próprio o homem tem certezas!
O divórcio, a distância que separa o desejo incomensurável de unidade e de clareza do mutismo do mundo, é o próprio absurdo. Esta falta de coincidência entre o homem e o mundo, entre o homem e a natureza, abre um fosso entre o homem e as forças que o rodeiam e o absurdo expressa precisamente esse momento em que "se quebra a aliança com as coisas". Ao mesmo tempo que é divórcio, o absurdo acaba por ser o único elo de ligação entre o próprio homem e o mundo. No entanto, isto não conduz ao desespero na medida em que agora não se trata de medir a vida em termos de ter ou não ter sentido, pois é precisamente o "não ter sentido" que confere à vida um sentido, ou seja, não ter sentido é o seu sentido. 

Camus

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