segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Uma história de terror.




Por mais amiga que seja da presidente Dilma Rousseff, a ministra Nilcéa Freire, que acaba de assumir a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, promete botar fogo na cautela e conservadorismo moral que caracterizam o atual Governo, quando trata de assuntos “quentes”.
Rousseff, como se sabe, assumiu o poder pisando em ovos. Ou, melhor dizendo, sem pisar nos calos de Lula, porque não deseja entrar para a História como a mulher que esvaziou o personalismo do seu inventor. Se pudesse, levaria quatro anos em banho-maria, para não despertar os fantasmas.
Entretanto, a cada dia ela descobre que há temas dos quais não consegue fugir. E o aborto é um deles.
A socióloga, professora e ministra Nilcéa não precisa concordar ou discordar da sua antiga companheira de cela durante o regime militar. Ela só quer que o Brasil deixe de tratar as mulheres como subproduto do machismo, objetivo mais que humano, relevante e modernizador.
Ela própria reconhece que o debate sobre o aborto, no Brasil, envolveu, historicamente, mais homens que mulheres. Não haveria problema, se os homens compreendessem o que significa a decisão de abortar ou não abortar. Só que a maioria não entende e, no momento de decidir, pensa como o seus bisavós: “aborto é pecado e, portanto, deve ser considerado crime”.
Boa parte da discussão sobre o aborto em nosso país, até hoje, foi contaminada por uma visão apenas religiosa: em que momento a alma começa a existir? Na fertilização, nos primeiros dias da gravidez, nos três meses posteriores?
Debate estéril, como se vê, porque voltado unicamente para concluir que não cabe à mulher decidir se levará adiante a gravidez. Caberá, então, a quem? À maioria esmagadora de homens, no Congresso Nacional? Esses homens jamais viveram o drama de uma gravidez indesejada e, muitas vezes, iniciada pela força bruta dos machos.
Certos sociólogos afirmam que esse apego primitivo à gravidez, por parte dos homens, não passa de reafirmação machista do poder que exercem sobre as mulheres. Outros levantam a tese de que o Brasil, com seu imenso território e ainda deitado em berço esplêndido, precisa proteger a gravidez para assegurar o crescimento de uma população capaz de ocupar e defender o país de invasores vindos de outros continentes.
Puro disfarce, se quisermos ser honestos. E nem sempre queremos.
Com ou sem território continental, o primado do humanismo determina, em nosso tempo, que a decisão não pertence à sociedade ou à Justiça, mas à mulher, que fará a escolha segundo sua capacidade de levar adiante a gravidez, criar e educar o filho e não ser sacrificada no altar das crenças próprias de outros séculos.
A criminalização do aborto – vigente durante um século – já parece condenada ao lixo da História, mas a nova ministra sabe que não é bem assim. Reabrir a discussão, neste momento, é provocar o demônio do preconceito e o moralismo mais selvagem.
Se ela pretende, de fato, levar adiante a bandeira da libertação da mulher, enfrentará grupos organizados e poderosos, que se julgam com o direito de legislar sobre o corpo feminino. Esses grupos, que demonizaram todas as tentativas de descriminalização do aborto, são responsáveis pela morte de milhares de mulheres e crianças, sacrificadas por aborteiros da periferia, porque não tinham recursos para remunerar os aborteiros da elite.
Resumindo a questão: o aborto, no Brasil, tem sido uma questão de classe. Se a mulher pode pagar, sai ilesa. Se não pode, corre o risco de morrer ou ser punida.
Onde é que entra a religião, nessa história de terror?


[Tião Martins]

5 comentários:

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