A erudição costuma ser fantasma para os simples e barricada atrás da qual se protegem os tagarelas da Academia. E o grande problema, em nosso tempo, é que os simples, intimidados pela obscuridade dos tagarelas, acabam por pensar que não sabem pensar.
Mas o ser humano é, por natureza, um animal que pensa, diriam Aristóteles, Sócrates e outros gregos do tempo em que a Filosofia ainda não se transformara em propriedade privada de acadêmicos falastrões.
Já é tempo de gritar que a verdade – qualquer verdade, por mínima que seja – continue sob o domínio e o controle de igrejinhas universitárias.
É tempo de revelar à multidão que a filosofia não existe para discutir o sexo dos anjos e muito menos para animar as reuniões dos masturbadores intelectuais.
A Filosofia tem tudo a ver com as coisas mais simples da vida: virtude, ética, trabalho, amizade, amor, paixão, gozo, desejo, liberdade e poder. Por isso mesmo, entra no currículo do ensino básico, em países onde o pensar é atividade respeitada por educadores, governantes e filósofos.
Pensar é sinônimo de liberdade, ainda que para certos professores signifique dependurar-se em um ou outro filósofo, conforme o gosto do dia.
Pensar significa desafiar ideias e conceitos que certos “pensadores” tentam empurrar goela abaixo do grande público.
Pensar é, acima de tudo, discordar de tudo que está pronto e acabado e, portanto, completamente morto.
Há mais Filosofia em conversas de botequim e brincadeiras de crianças do que em uma dezena de cursos especializados.
Os frequentadores de botecos, com raras exceções, não citam autores e suas obras, usam expressões que os outros compreendem, discutem o trabalho, a ética e a família e julgam os patrões, os colegas, os governos e os governantes a partir de conceitos que todos entendem.
Falta-lhes apenas a prática do pensamento simbólico e o conhecimento de métodos que organizem e aprofundem suas reflexões.
Alguém deveria franquear-lhes as portas da Filosofia.
Mas quem terá a coragem de inaugurar esse vasto mundo novo?
Tião Martins
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