quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Nau sem rumo


O utilitarismo norte-americano não tem limites.
Tanto não tem que já há algum tempo certos doutores da terra de Barack Obama resolveram que a Filosofia precisava ter alguma aplicação mais prática (e rentável, é claro).
Veio daí a ideia de que os filósofos – por sua compreensão diferenciada do universo humano – poderiam ser eficientes na ajuda a neuróticos, ansiosos, deprimidos, compulsivos e vítimas de outros distúrbios. A moda dos cafés filosóficos nasceu assim e quase foi terminar no divã.
É claro que os psicólogos berraram, em defesa do seu território. Afinal, são eles que julgam dominar as técnicas de mergulho nas confusões da alma. Confusões que roubam de milhões de pessoas o prazer de viver.
Apesar do seu utilitarismo explícito, os filósofos ianques não inventaram do nada a sua reivindicação e nem estão inteiramente afastados da coerência e da verdade.
O estudo orientado da Filosofia, se o filósofo tiver sensibilidade para compreender os desejos, contradições, impulsos e aspirações dos seus discípulos (ou pacientes) pode não curar ninguém, mas certamente fará algum bem à alma do aprendiz.
Não dá é para confundir o estudo da Filosofia com as técnicas usuais da Psicologia. Uma nos leva a compreender e aceitar nosso minúsculo papel no mundo, nossa transitoriedade e o significado da vida. A outra, por definição, tenta nos reconciliar com sentimentos, pulsões, medos, desejos, ganhos e perdas.
Bom seria se o psicólogo fosse também filósofo ou o filósofo não rejeitasse a Psicologia. Assim, ambos seriam capazes de conduzir a sua relação com o paciente ou o aprendiz para o campo mais amplo da especulação filosófica, que em última análise é onde teremos que desenvolver uma nova arquitetura existencial.
Observando os humanos em sua loucura cotidiana, percebemos que não é do paraíso que sentimos falta, mas da liberdade diante das armadilhas do ego e das ilusões de poder e controle que ainda nos cegam e nos imobilizam.
A Filosofia não é tábua de salvação, em caso de naufrágio, como a Psicologia quer ser. Mas arranca a nossa máscara e nos permite navegar e compreender – antes da próxima onda – como é pequeno o nosso barquinho, diante da imensidão do mar.


Tião Martins

Um comentário:

  1. Ora, ora, se não é a desumanização das ciências humanas por Obama e companhia!

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