sábado, 29 de janeiro de 2011

O MEU abismo por Tião Martins



Embora os conservadores rejeitem a criatividade no campo do Direito, já é hora de abandonarem regras e convicções superadas. Houve tempo em que os criativos foram temidos ou desprezados, chamados de loucos e até condenados à fogueira, por serem diferentes da maioria. Aqueles que se julgam donos do Direito fariam o mesmo hoje, se pudessem.
São muitos os que olham com suspeita para toda inovação jurídica, como se fosse coisa daqueles caras que vestem roupas espalhafatosas, usam estranhas tatuagens ou pintam o automóvel de rosa. Mas isso nada tem de criatividade. É só provocação e estratégia de autopromoção.
Em qualquer área, idade ou profissão, a criatividade não é a mãe do espalhafato, mas irmã do inusitado e do radicalmente novo. Quando Leo Gandelman improvisa, em seu sax, é criativo, assim como Elza Soares, ao explorar todas as possibilidades de suas cordas vocais.
Criativos nunca se conformam com o que já existe, por melhor que pareça a olhos alheios. Já o conformismo é filho da timidez com o medo e leva à repetição, à cópia, à reprodução mecânica, seja na música, nas artes plásticas, na oficina mecânica, na construção civil ou no Direito.
Enquanto os copistas repetem fórmulas, os criativos correm o risco de buscar soluções originais. Mas não querem a originalidade só para ser diferentes: procuram caminhos mais justos, mais belos, mais humanos. O que me encanta neste blog e na Fernanda é exatamente isso: a ousadia de criar.
Motivos não faltam, a tímidos e conformistas, para se recusarem a experimentar a invenção, pois os inovadores pagam um preço por sua ousadia. Mas são eles, os criativos, o sal da terra. E é bom que se saiba: não é dom que cai do céu sobre a cabeça de alguém, mas recriação de si mesmo, dia após dia, com insônia e horas vazias. Não é passe de mágica, não admite facilidades e nem se dá bem com a mentira e o autoengano.
Como escreveu a coleguinha Martha Medeiros, falando da coragem de viver, os criativos “bailam sobre o precipício”. E é lá, à beira do abismo, que cultivam e colhem tudo ou nada e aprendem a separar um do outro, como fizeram Picasso, Virginia Woolf, Clarice Lispector, Freud e Kafka. Um dia, as senhoras e senhores do velho Direito vão experimentar o abismo. E talvez acordem para a realidade.

Tião Martins



p.s.: Tião, meu queridooooo amigo, obrigada por navegar comigo nesse barco.

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