sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Todo poder é suspeito


São suspeitas todas as pessoas, grupos sociais ou partidos políticos que assumem a propriedade exclusiva da ética, da moral e da virtude.
E aqueles que proclamam, aos berros, a sua inocência, são duplamente suspeitos, principalmente quando se dedicam a distribuir culpas.
Toda virtude anunciada acaba por se transformar em coerção e autoritarismo, porque o virtuoso atribui a si mesmo o direito de julgar e condenar os demais.
Por isso, nada é tão vicioso quanto se apossar da virtude e negá-la sistematicamente no outro, para dividir o mundo em duas categorias: os bons e os maus.
Esse reducionismo radical evolui para a discriminação, a prepotência e a dominação e cria um território no qual não existe lugar para o amor.
Agora responda: que instância social, entre nós, mais se aproxima dessa atitude diante do mundo e das pessoas?
Entre todos os grupos de que se compõe a nossa sociedade, qual se vê sempre como virtuoso e pronto para premiar os integrados e punir os rebeldes?
Qual deles tem o poder de atribuir perfeição e excelsas virtudes a alguns dos seus integrantes e abomináveis pecados a outros?
Olhe em volta e você verá que só a família – mais que a mídia, as religiões, a Justiça e os partidos políticos – reúne tanto poder sobre os indivíduos. Um poder discricionário, absoluto.
Autoritária ou liberal, a família não costuma admitir recursos e raramente reincorpora filhas e filhos pródigos.
Sendo, por definição, um espaço dedicado a cultivar e ensinar a união e o amor, a família usa o poder para desunir, via inveja, competição, violência e ódio.
Nem todas são assim, dirão vocês, mas a exceção não desmente a regra. Basta ver o que ocorre quando da divisão dos bens, no divórcio ou no luto.
Tudo isso leva à conclusão de que a família, que deveria ser a sede da pedagogia do amor, atua como espaço do poder, do individualismo e da violência.
Só onde falta o amor, dirão vocês. Sim, mas quantos casais vocês conhecem que realmente se amam e dividem esse amor?
Os casais, em sua maioria, estão entregues à luta pelo poder sobre a família. E o poder, vocês sabem, é inimigo do amor.


Tião Martins


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