quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Vampiro de Curitiba


    Tudo que um sujeito imagina outro é capaz de realizar, diziam os otimistas, antes de se tornarem pessimistas.
Essa fé na criatividade humana deve ser contemporânea da Revolução Industrial, quando máquinas que antes pareciam ficção mudaram a cara do mundo. Afinal, com três séculos de antecipação, Leonardo da Vinci sonhara com aviões, helicópteros, metralhadoras e submarinos, que entrariam na História como pesadelo bélico.
Não é desse tipo de imaginação que se fala aqui, mas das armações criminosas que nascem da mente daqueles que se julgam espertos e superiores às leis, mas acabam fotografados em uma delegacia de polícia.
A primeira história é de um compositor mineiro que, ainda jovem e carente de atenções femininas, aproveitava as férias da família na praia e promovia em casa um rodízio diário de empregadas domésticas. Os pais nem haviam saído da cidade e ele já corria ao jornal e mandava publicar anúncios classificados recrutando moças para a faxina da casa. Faxina total, registre-se.
Vocês podem imaginar as intenções e os atos do rapaz, que selecionava (a preço módico) a mais atraente, dócil e gentil das moças, para servi-lo. Nunca fez chantagem ou apelou para a violência: obtinha os favores desejados com argumentos que iam da solidão ao soneto e à possibilidade de amar.
Se fosse hoje, seria culpado de assédio sexual, mas na época ainda não havia no Código Penal punição para tal crime. E, quando a família regressava, já não havia sinais da festa, a não ser no sorriso feliz do primogênito.
Se o compositor se deu bem durante anos, o mesmo não aconteceu com o empresário de Curitiba que publicou anúncios nos jornais recrutando empregadas domésticas e selecionando as mais atraentes. A intenção dele era receber “serviços especiais”, cuja descrição os jornais de tradição consideraram impublicáveis.
Esse típico filho do capitalismo selvagem, “além de molestar sexualmente as candidatas que se candidatavam à vaga de doméstica em sua casa, apreendia os documentos delas e não pagava o salário prometido”, relata o inquérito policial. Nem o Vampiro de Curitiba, imortalizado por Dalton Trevisan, foi tão longe.
No apartamento do faminto, em região nobre da capital paranaense, os policiais encontraram uma das mulheres em cárcere privado, além de carteiras de trabalho e objetos pessoais de outras vítimas. Os homens da lei calculam que 117 mulheres passaram pelo apartamento, em oito meses.
Fica só uma certeza: se dois já tiveram a idéia, outros vão tentar. Certos humanos de má qualidade costumam ser assim: copiam o que existe de pior.


Tião Martins

Nenhum comentário:

Postar um comentário