terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Punir a irreverência

 

Todo poder quer ser absoluto e incontestável. Logo, não tolera provocações.
Jean-Paul Sartre escreveu que “o inferno são os outros”, apenas uma versão mais elegante da certeza de que “o homem é o lobo do homem”.
Mas neste nosso mundo pobre em filosofia e invadido por preconceitos e palavras de ordem, o pior inferno é a intolerância. Esta nunca soube o que é ser normal e, de uma hora para outra, enlouquece de vez.
Por ser alegre, descontraída e filha da liberdade, a irreverência é nua e bela. Transparente, inquieta e ousada.
E é por isso que provoca reação tão irada dos intolerantes de todas as cores, idades e gêneros, cobertos do pescoço aos pés com seus chavões, preconceitos e velharias e sempre mobilizados para reprimir, condenar e punir os irreverentes.
É fácil medir o caráter autoritário de um governo por sua reação à irreverência e pela brutalidade da sua ira. E o mesmo acontece na religião, nas artes, na literatura, na família e nas escolas.
Em qualquer campo, o intolerante não ouve e não pensa. Apenas reage, a partir de ideias concebidas por outros e engolidas sem reflexão.
A intolerância é sempre resistência à mudança, atraso e medo de enfrentar o novo. Porque os intolerantes sabem que suas convicções são frágeis, pueris, e podem ruir em segundos, diante da irreverência.
Alimentam-se de slogans, palavras de ordem e manuais, aos quais obedecem cegamente. Estão no mundo, mas impedidos de saber que mundo é esse.
Por isso, juntam pedra e pau e saem à caça dos irreverentes.
E, quando não podem punir a irreverência, afastam-se dela como se fosse o canto de sereia do Demônio.
Mas sabem eles que são a própria encarnação do Demônio em que acreditam.


Tião Martins

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