segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O mito saudade.



O que se pode dizer, sem ser prolixo, para descrever o que venha ser esta palavra emblemática, que a maioria prefere, ao descrever felicidade? Uma relação congênita que pode ser lida como lembrança de algo bom ou mesmo de algum momento que não se quer esquecer jamais.
Se relaciona muito rápido, no senso comum, lembrança com saudade, mas sempre que pensamos nesta palavra nos vem o desejo de algo perdido, ou seja do passado. É uma palavra sem dúvida muito apropriada para se usar, de forma genérica; é como se ela fosse um mito que não se deve questionar. Portanto se pensarmos em saudade estaremos com a  mente no passado memorável, sobretudo prazeroso.
Se a saudade representar apenas isso, me parece que não estamos sendo capazes de mensurar com lucidez, fora da ótica semântica, esta palavra tão singular da nossa complicada e imperfeita língua portuguesa. Prefiro, contudo, sem destruir o mito, apresentar uma proposta mais complexa, a meu ver, esquecemos que a palavra “falta” está muito próxima quando o assunto for de maior importância para um outro contexto, que não seja simplesmente emocional romântico.
Raciocinando desta outra margem do objeto, com um olho empírico, perceberemos que a palavra saudade muitas vezes não corresponde a uma verdade pessoal. Se sentimos falta de modo mais concreto que romântico, a saudade não será capaz de descrever a dor ou a falta de um afago ou da presença física de um ente querido, por exemplo.
Sinto falta, isto é concreto, como alguém que por necessidade ou escolha amputa um membro que lhe servia nas lutas diárias, esta pessoa não dirá - ai que saudade do meu olho, agora não consigo enxergar aquilo que me fazia tão bem. Como olhar um jardim florido, o rosto de um filho querido ou mesmo da mulher amada. Digamos que desta mesma linha de percepção sensorial, nos víssemos privados de uma das mãos, como reagiríamos na hora, que por necessidade física precisássemos dela para uma ação de grande prioridade? Seria uma expressão muito vazia se disséssemos, ai que saudade da minha mão direita, agora não consigo mais fazer as coisas que  realizava com ela.
Acredito que diríamos. “Quanta falta me faz a minha mão...”



Evan do Carmo

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