domingo, 25 de dezembro de 2011

Uma pedra no caminho



Como dezenas de outros profissionais da saúde, o psicanalista Antonio Lancetti tem procurado compreender – sem pressupor – a realidade dos consumidores de drogas pesadas. E, por não partir de ideias preconcebidas, reconhece que a sociedade e as autoridades brasileiras não sabem o que fazer e sequer o que pensar a esse respeito.
Quando não sabem o que pensar e o que fazer, nossas autoridades costumam adotar o caminho tradicional da pura e simples repressão. Misturando o tráfico e o consumo no mesmo saco, a polícia e até os guardas municipais recebem ordens para reprimir, cercar, espancar e prender os dependentes do crack e de outras drogas.
Antes, só os cárceres e presídios masculinos ficavam lotados de traficantes e consumidores. Agora, o número de mulheres detidas e trancafiadas em nome do crack está cada vez mais próximo das estatísticas relativas aos homens. Trata-se de uma epidemia, nascida – em boa parte – das condições miseráveis em que vive uma parcela importante da população.
Em boa parte, sim, mas não exclusivamente. Filhos e pais da classe média já frequentam as cracolândias em todo o país, porque, além de mais barata, é mais poderosa, viciante e enlouquecedora que a maconha e a cocaína. Por alguns minutos, o consumidor escapa da realidade e até da fantasia. E quer mais, muito mais, antes de morrer.
São compreensíveis os motivos daqueles que defendem a descriminalização das  drogas mais leves, como opção estratégica de desmonte das quadrilhas de traficantes, mas essa é iniciativa que hoje não encontra suporte político na sociedade, depois que os governantes demonizaram todas as drogas e retomam agora a prática de internar as vítimas em hospitais psiquiátricos.
Como justificar, diante da opinião pública em pânico, uma estratégia de longo prazo, se os parentes – em sua maioria – querem soluções rápidas, que salvem a vida dos seus drogados? Além disso, com a classe política que temos, anacrônica e corrupta, é ilusório esperar que alguém venha a assumir essa responsabilidade, em nome de uma solução efetiva.
            Antes, era a maconha, cuja venda já foi liberada em alguns países. Herança dos escravos africanos, a maconha custava pouco e podia ser plantada até dentro de casa, em inocentes vasos de flores. Depois, veio a cocaína, a droga dos executivos e das madames, mais cara e mais perseguida, por ter maior valor de mercado, para traficantes e policiais.
E chegamos ao crack, barato e mortal.
Agora, existe no mercado uma pedra ainda mais econômica e assassina, por ser destilada com querosene ou gasolina. Chama-se oxi e está se espalhando rapidamente pelas maiores cidades brasileiras e, pasmem, chega às pequenas localidades e à zona rural.
            Adotar a truculência policial e os velhos hospícios para combater o crack e o oxi é confissão pública de insanidade e incompetência. Entretanto, são essas as opções que as autoridades brasileiras estão adotando.
Agimos como aquele egocêntrico radical que diz a si mesmo: “Se a culpa é minha, tenho o direito de dividi-la com quem eu quiser”. E, para tirar uma pedra do caminho, explodimos as vítimas e condenamos milhares de famílias à dissolução.
O Brasil do futuro irá nos cobrar por esse crime inafiançável.
E não teremos perdão, porque não merecemos.



[Tião Martins]

Um comentário:

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