quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Educação filosófica


Uma cadeia mundial de comércio especializada em jóias usou durante muitos anos, com grande sucesso de vendas, o slogan publicitário “Um diamante é para sempre”. Pura força de expressão, pois nada é para sempre.
Os humanos, por necessidade vital de acreditar na permanência, elegem certos valores, instituições, sentimentos e até objetos para a representação da eternidade: a religião, a ideologia, as leis, a Constituição, a amizade, o amor. Ou um diamante.
Esse apego ao passado e ao presente não passa da manifestação de um desejo irrealizável: no fundo, gostaríamos que tudo continuasse como sempre foi, começando por nós mesmos e pela auto-imagem que construímos.
Até quando interpretamos o papel de revolucionários na política, no Direito ou nas relações afetivas, muitas vezes estamos apenas disfarçando a alma empedernida de um conservador e desejando que o cenário – no fundo de palco – continue o mesmo.
Conviver com a falência ou a mutação de valores, crenças, expectativas e afetos deveria ser motivo de júbilo e de festa, já que a mudança é a única forma de nos aproximarmos da verdade a respeito do universo e das pessoas.
Penso que essa resistência à mudança tem tudo a ver com o sentimento de que cada transformação no mundo real anuncia e sinaliza a aproximação do momento em que também mudaremos definitivamente. Simplificando, o medo da morte e do silêncio final é que nos torna tão dependentes dessa irrealidade que chamamos de vida real.
O ego, vazio de tudo, tem a volúpia de tomar posse do real. É por isso que tantas pessoas veem como perda pessoal a falência de ideologias, religiões, partidos políticos, instituições sociais e afetos.
Se recebêssemos, desde a infância, uma certa educação filosófica, estaríamos hoje mais empenhados em compreender o sentido da existência humana, em lugar de nos envolvermos tanto e tão cegamente com a defesa e preservação do ego, da propriedade e do poder, eternos inimigos da liberdade, igualdade, fraternidade e amor.
E assim, quem sabe, poderíamos abrir mão da violência cotidiana, dos pequenos e das grandes agravos ao que existe de humano em nós, dos crimes e das penas, dos cárceres privados e públicos e da guerra ingênua e suicida que travamos, a cada dia, contra o resto da humanidade.
Tudo isso dá o que pensar. Mas são poucos os que pensam.

Tião Martins

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